Randori ( 乱取り)
Uma das razões pela qual o judô evoluiu até se tornar um esporte internacional é que suas duas formas de prática, o randori e o kata, são formas ideais de treinamento. O mesmo não aconteceu com o jujutsu, que era aprendido quase exclusivamente pela prática do kata. Nas escolas que enfatizavam o randori, como a Kito e a Tenshin Shinyo, a prática em randori só começava quando o aluno tinha adquirido maestria no kata.
A origem do randori está em um tipo de treinamento conhecido como nokori ai, praticado pouco tempo antes da Restauração Meiji em 1868. Era uma forma de prática de kata em que os oponentes executavam uma determinada série de técnicas: o arremesso do tori tinha que ser feito de maneira eficiente, senão o uke aplicaria um contra-arremesso. Se o contra-arremesso do uke não fosse eficaz, o tori podia lançar seu próprio contra-ataque.
A meta fundamental do randori é desenvolver a habilidade de lidar rapidamente com qualquer circunstancia mutável, desenvolver um corpo forte e flexível, e preparar a mente e o corpo para as competições. O randori deve ser muito praticado para que o aluno obtenha os melhores resultados. Preste a maior atenção nos seguintes pontos:
1. A posição fundamental do corpo é sempre shizentai. Essa postura natural básica não é apenas a mais adaptável a mudanças, mas também a menos cansativa. Os dois parceiros ficam numa mesma postura.
2. Antes de tudo, a ênfase está colocada nas técnicas de arremesso. A prática de arremessos é a mais valiosa, tanto como educação física quanto treinamento espiritual, pois requer que o aluno perceba e reaja a uma maior variedade de situações. E só quando o aluno passa para as técnicas de agarramento após muita prática nas técnicas de arremesso que ele tem maior possibilidade de ficar igualmente eficiente em ambas. As pessoas que se especializam em judô por muitos anos ganham uma oportunidade inigualável de estudá-lo em profundidade, mas, para aqueles que sentem vontade apenas de aprender uma das técnicas, as de arremesso são consideradas, definitivamente, as mais importantes. É melhor se concentrar, de modo apropriado, em uma delas do que inadequadamente nas duas. Se o trabalho de chão é feito primeiro, as chances posteriores de o aluno aprender o nage-waza são poucas, ou talvez inexistentes. Especialmente se o tempo de prática for limitado, ele deve concentrar-se em aprender primeiro os arremessos.
3. Tenha sempre em mente que o randori é o treinamento da arte de ataque e de defesa. Em uma arte marcial, é essencial você treinar o corpo para se mover livremente e com agilidade, a fim de lidar com ataques e socos e chutes, e desenvolver a habilidade de reagir rapidamente e com eficácia. O objetivo imediato é vencer. Nunca admita a derrota.
Infelizmente, em muitos dojos, hoje em dia o randori não é praticado como deveria ser. Uma das razões é o stress do treinamento voltado para competições. Em competições e torneios, os participantes tendem a abandonar a postura natural básica e assumem posturas defensivas rígidas. O judô “estilo competição” que resulta disso está longe de ser o ideal.
Ao praticar na postura natural, os pontos que jamais devem ser esquecidos são: nunca usar força excessiva; sempre colocar nos ombros, quadris e membros a quantidade de força que for necessária; e sempre praticar os movimentos harmoniosamente e de maneira controlada, de acordo com sua vontade.
Uma segunda razão para as práticas atuais é que, com o aumento do número de pessoas que praticam judô, há uma falta de instrutores qualificados pelo mundo afora e os padrões de qualidade acabaram sofrendo prejuízo. Garantir a continuidade do randori no estilo da Kodokan é certamente uma das tarefas mais importantes que o mundo do judô enfrenta hoje.
* texto extraído do livro Judô Kodokan – Jigoro Kano – Ed. Cultrix
Nenhum comentário:
Postar um comentário