sábado, 5 de março de 2011

Tai-sabaki (esquivas)

Tai-sabaki é como se chama o controle do corpo. Ele envolve principalmente os movimentos giratórios, que devem ser fluidos e rápidos. O corpo deve se mover com leveza e você precisa manter o equilíbrio o tempo todo. Dominar o tai-sabaki é indispensável para executarmos de maneira eficiente as técnicas de arremesso.



*  Texto extraído do livro JUDÔ KODOKAN – Jigoro Kano –Ed. Cultrix

O grande mestre Kyuzo Mifune (10º dan) declarou muitas vezes: “ o tai-sabaki é a primeira e a última etapa do judô”.
               Este mestre extraordinário que alargou o próprio conceito do tai-sabaki, considera esta arte como a própria essência do judô e de toda a ação humana. Tai-sabaki significa “esquiva do corpo, movimento giratório do corpo, defesa do corpo girando”.
1.       Teoria.         Para compreender facilmente o ABC do tai-sabaki, consideremos o corpo plano como um eixo (linha dos ombros) podendo rodar sobre o seu centro de gravidade. Se um adversário empurra uma das extremidades dos ombros, o corpo rodará no seu centro. Reagirá da mesma forma se puxar uma das extremidades. Para poder perturbar o equilíbrio do corpo e alterar a posição, é preciso aplicar o empurrão ou a tração no centro do corpo. O centro, o eixo de rotação, torna-se assim o ponto vulnerável. Ora é perfeitamente possível deslocar este ponto e trazê-lo, por exemplo, para as extremidades. Neste caso, o corpo roda em volta do eixo passando pelo ombro e quadril esquerdo, por exemplo, e confiando no pé esquerdo. É o que se passa no judô quando duma projeção. Em virtude do princípio do braço de alavanca o maior possível, estas técnicas, utilizam a extremidade do corpo como eixo. É assim que, numa projeção como Ippon-seoi-nage, Tori roda sobre o pé direito em volta do eixo do ombro e quadril direito, lançando para trás e para a esquerda a outra extremidade do corpo, isto é, ombro, quadril e perna esquerda. Este movimento rotativo possante transmite a energia ao braço esquerdo que puxa Uke em volta do eixo rotativo. Quando o pé esquerdo está pousado no solo, a energia cinética é transmitida ao ombro direito e em parte ao quadril direito, que se desloca então sobre o novo eixo do ombro e quadril esquerdo.

Esta longa explicação permite-nos constatar que, se a projeção foi efetuada com o centro do corpo como eixo de rotação durante todo o movimento, Tori só terá obtido metade da eficácia para um mesmo dispêndio de energia. Com efeito, o eixo encontrando-se no meio das duas extremidades, o braço da alavanca é duas vezes menor que se ele estivesse colocado numa das extremidades.
Vemos, assim, que o tai-sabaki não é mais que uma técnica de esquiva. Ele permite tornar vãos todos os ataques de um adversário, mas o seu emprego inteligente presta grande serviços no ataque.
2.       Prática.        Para assimilar rapidamente a base de tai-sabaki, é preciso exercitar-se sucessivamente em três formas graduais.
A primeira, a mais simples, consiste em partir da posição shizen-hon-tai (os dois pés sobre a mesma linha) e de rodar sobre o pé esquerdo voltando todo o corpo para a direita e recuando largamente o pé direito em semicírculo. É um tai-sabaki elementar à direita, muito corrente na defesa. Para esquivar à esquerda, trata-se muito simplesmente de inverter o modo operatório. Mas esta maneira de se deslocar não utiliza todas as possibilidades do corpo.

Uma segunda maneira, mais eficiente, consiste em avançar o pé esquerdo em semicírculo diante do pé direito, tudo voltando o corpo para a direita e rodando sobre o pé direito. Este recua geralmente um pouco no fim do movimento, a fim de acentuar a rotação do corpo.
É o que nos encanta no tai-sabaki completo, que consiste em fintar um pequeno passo de chamada do pé direito para a direita e lançar largamente o pé esquerdo num grande passo em direção da frente esquerda. No mesmo instante, o corpo volta-se para a direita e o pé direito é reconduzido para trás em direção do lugar onde se encontrava o pé esquerdo.
 

O estudo destes deslocamentos deve ser repetido sem parceiro até à obtenção do automatismo correto do movimento. É preciso, depois, aplicar progressivamente cada técnica a estes casos precisos.
O judoka deve-se esforçar por aplicar o tai-sabaki, em deslocamentos para todos os ataques e todas as defesas. Evitarão os passos demasiado largos, os deslocamentos intempestivos do seu centro de gravidade, os gestos bruscos. O seu espírito estará vigilante, de forma a nunca estar flagrante defeito de “mau emprego do seu corpo” e a utilizar prontamente todo o deslocamento inexato do adversário. Este treino é muito difícil, mas rico em ensinamentos, pois toda a ciência do melhor emprego de energia se revela na prática do tai-sabaki.
Trata-se, com efeito, de furtar a todo o momento o seu corpo à influência do adversário e de dominar sem cessar o dele para lhe descobrir a mínima falha de posição. Para tal conseguir, é imperioso refrear a tendência natural para recorrer à força. A rapidez de deslocamento do corpo inteiro e, em particular do seu centro de gravidade, é mais importante que a energia empregada pelos braços. A prontidão com a qual se descobre a abertura de um ataque é mais eficiente que a força dos músculos. Pois uma vez estes preciosos pontos adquiridos, a energia necessária para dominar o adversário será bem menor. O treino na descontração, a calma de espírito, a sinceridade e o ardor no combate, levarão o aluno sério a este objetivo que é um dos principais do judô.

*  Texto extraído do livro O Judo  – Luís Robert – Editorial Notícias

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